quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Koinobori

Vovô Kyo parece estar bastante entusiasmado com o nascimento de mais um neto, tanto que foi até o bairro da Liberdade para comprar umas carpas de pano que funcionam como uma biruta para hastear em nossa casa. Voltei de viagem (de Goiânia) e a Helene foi me buscar e aproveitamos que estávamos na rua para ir à casa de meus sogros. Ele nos mostrou as carpas. São três: uma preta, uma rosa (ou vermelha) e uma azul. Ele disse ser uma tradição em casa que tem menino e se chama “Koi Nobori”, ou a “subida da carpa”. Em minha ignorância achei que fosse uma carpa para cada membro da família: a preta é o pai, a vermelha representaria a mãe, e a azul, o filho. Eles nos explicaram o significado do Koi Nobori e depois fui procurar mais informações na internet. Eis o que achei:

A haste é erguida no lado de fora da casa, a uma altura acima da linha do telhado para que todos os kois fiquem visíveis do entorno da casa. A dimensão dos kois pode variar de alguns centímetros a vários metros. Em primeiro lugar vem um koi preto (representando o pai), em seguida um koi vermelho (representando o primogênito) e logo abaixo um koi azul (representando um filho mais jovem). Se houver mais meninos na casa, o menino seguinte é representado por um koi verde, e outro por um koi violeta. O koinobori é hasteado no final de abril para se estender até o Dia das Crianças.” (fonte: www.wikipedia.org)

O correspondente aos meninos do Hinamatsuri acontece no dia 5 de maio. Durante os anos de ocupação pós-guerra, o nome do festival foi mudado de Tango no Sekku (Dia dos Meninos) para Kodomo-no-Hi (Dia das Crianças), mas continuou sendo celebrado da mesma forma e somente para os meninos.
Em todo o país, famílias com filhos homens hasteiam, neste dia, sobre um mastro de bambu, o Koinobori, que é uma carpa colorida de tecido ou papel. Quando o Koinobori é visto tremular junto ao céu azul tem-se a impressão de estar vendo uma carpa nadando contra a correnteza. O Koinobori representa o Dia dos Meninos, e a carpa é um símbolo de força, persistência, bravura e sucesso. Esse peixe consegue nadar e subir correntezas e cataratas sem a ajuda de ninguém, e numa fábula chinesa, a valente carpa se transforma num dragão no final da escalada. Os atributos que a carpa simboliza parecem virtudes militares (persistência, coragem, sucesso), e de fato, ela está em algumas lendas que falam de guerras ocorridas num período remoto, tanto é que nos santuários do deus da guerra, Hachiman, são distribuídos amuletos em forma de carpa.
A prática de hastear o Koinobori surgiu no século XVII entre os plebeus urbanos, que resolveram apresentar uma alternativa ao costume dos samurais de exibirem suas armas e armaduras no Dia dos Meninos. Além de ser mais simples, a carpa de tecido simbolizaria os mesmos valores pretendidos pelos guerreiros sem ser tão ostensivo. As duas formas de celebrar a data foram mantidas por muito tempo. Mesmo atualmente, além do Koinobori no lado externo da casa, os meninos devem expor dentro de suas casas, miniaturas de bonecos de guerreiros, com armadura, arma e capacete.
Os costumes mudam com o tempo e hoje é possível ver famílias hasteando o Koinobori para suas filhas.” (fonte: www.culturajaponesa.com.br)

Ainda na Wikipédia
Há uma canção muito popular que é cantada pelos membros da família.

Yane yori takai koi-nobori
Ōkii magoi wa o-tō-san
Chiisai higoi wa kodomo-tachi
Omoshirosō ni oyoider


Do alto da casa sai o koi-nobor
Papai é a carpa preta grande
Carpas pequenas são as crianças
Todos nadam alegremente

Ou seja, as coitadas das mães não têm vez na cultura japonesa. Mas eu gosto de pensar na família como uma unidade, portanto, na figura da carpa preta como o pai, a carpa vermelha como a mãe e a carpa azul como nosso filho. Aos que preferem seguir a tradição, na nossa família manteríamos as 3 carpas: a carpa preta o pai, a carpa vermelha o primogênito, nosso cão Erik, e o caçula Fernando Akira, representado pela carpa azul.
Bom, saímos da casa dos pais da Helene e trouxemos meu sogro que fez questão de instalar a haste que ele havia comprado e hastear as carpas. Era uma segunda-feira ensolarada, dia 08/11 e ficamos até quase 19 horas. Infelizmente não estava ventando, e não foi possível observá-las flutuando. Com o avançar da noite, foi virando o tempo e começou a ventar bastante e deu para tirar umas fotos que ficaram boas. A haste fora presa por uns arames e as carpas começaram a enroscar nele. No dia seguinte, mudei a forma de fixar a haste para que as carpas pudessem “nadar” livremente. Acho que agora está bom!
Panhan

Sempre admirei no meu pai essa disposição em fazer as coisas: o portão da casa, a caixa de correio, as estantes para livros, nossos berços, cadeirões e poltroninhas... bem, alguns de seus inventos rendiam piadas, como a lata de óleo no aquecedor do ofuro, a bicicleta do Tuti (meu irmão), com banco de madeira e garupa de tampa de privada –nada que diminuísse a diversão das brincadeiras. Aliás, ele sempre contava com nossa ajuda: “preciso de um peso lá para cortar aqui!”, “eu seguro, você martela” (imaginem quantas marteladas nos dedos ele levou!). Sobrou uma prateleira – vamos fazer uma gangorra, um balanço, um banquinho! Depois veio a era do PVC – poltronas para tomar sol, o cadeirão do Pipo (o caçula) e outros inventos. O último que ele tinha feito para mim foi quando entrei na faculdade – uma estante para livros. Essa estante hoje está na minha sala de professor na escola!
Assim, hoje, mais do que sempre, eu dimensiono bem o valor desse presente, escolhido e instalado por ele, para nos inspirar nessa nova fase de nossa jornada. Acho que ele se sentiu uma carpa!
Pai, obrigada!
Helene

Instalando a haste

Prendendo a haste com arame

"Subindo as carpas"

À noite o vento fez as carpas "nadarem"

Papai, mamãe e filhote

Afinal a carpa vermelha é a mamãe, ou o primogênito?