Eu não gosto desta
expressão. Na verdade, palavras mágicas aqui em casa são: abracadabra,
alacazan, sinsinsalabim e outras que o Fernando inventa na hora e não consigo
transcrever aqui. Entendo que a magia tem seu encanto, mas outro dia estávamos
assistindo Bubble Guppies e eles diziam:
- Não se esqueçam:
mágica é só ilusão. Não acontece de verdade.
Achei que não diria
tão cedo que ‘no meu tempo não era assim’, mas sinceramente me incomoda receber
um pedido sem um ‘por favor’, ou fazer um favor e não ouvir um ‘obrigado’. É
uma pena que o vocabulário básico da boa educação tenha se transformado em ‘palavras
mágicas’, no sentido de algo que deveria ser cotidiano pareça espetacular, de
tão raro. Acho que a forma das pessoas se comunicarem piorou muito com essa comunicação
instantânea e constante por torpedo, twiter, whatsapp etc. Tenho resistido como
posso: tive meu 1º celular em 2000 (era o ex-aparelho da Keilla) e uso meu 2º aparelho,
que nem tira foto; não usei Orkut, mal uso facebook; ainda escrevo carta a mão
para enviar pelo correio, bem menos do que escrevia anos atrás, mas minhas
mensagens pessoais de email são como cartas e nas profissionais tento ser
cordial. Isso me faz parecer um ser de outro mundo (e outro tempo!). Já estou
vendo que o Fernando ainda terá muito que me ensinar, mas espero que ele
preserve alguns dos nossos ensinamentos.
Posso ajudar?
Os lixeiros, o
faxineiro do prédio vizinho, o jardineiro, o cara que limpava a piscina da
academia, o pessoal da oficina do Sr. Carlos, todos os prestadores de serviço
que passaram por aqui na fase da reforma, instalação de móveis, arrumação do
jardim...
Em casa, não é
diferente: na cozinha, na faxina, nos consertos e instalações que o Zé faz, dar
comida e água para o Erik...
O Fernando é um
curioso, interessado por todo tipo de ferramentas e aparelhos. Oferecer ajuda
significa a oportunidade de mexer nas coisas, testar as ferramentas dele e/ou
fazer uma ferramenta com os blocos de monta tudo.
O difícil é fazê-lo
entender que nem todo mundo quer ou precisa da ajuda dele.
Por favor?
Quando ele esquece,
a gente faz que não ouviu direito: Como?
- Posso ganhar um
suco, por fa-vor?
E quando a gente pede
um favor, é comum ele dizer: Claaaro, claro que sim.
O difícil é fazê-lo
entender que pedir ‘por favor’ não garante que o favor seja concedido.
Obrigado e De nada
O Fernando ainda
diz mais ‘obrigada’ do que ‘obrigado’. Acho que ele fica confuso mesmo, porque
ele sempre me ouve dizer ‘obrigada’ e eu, muitas vezes, não atento para esse
detalhe no final da palavra...
Ele ainda acha que
os meninos dizem ‘obrigada’ e as meninas dizem ‘de nada’.
Mas quando
agradecemos por algo, ele responde: De nada!
Com licença, bom dia/boa tarde
Nem sempre é
espontâneo, até porque para qualquer lugar que a gente vai, há todo um preparo:
além do ritual de levar muda de roupa, nécessaire, lanche etc., explicamos
aonde vamos, para quê, como ele deve se comportar e o que acontece se ele não
se comportar bem, se há regras e quando voltar. E o mais importante: dar o
exemplo.
Me desculpe
Ele pede desculpas e
nos cobra pedidos de desculpas.
Nosso ritual de
desculpas inclui explicar porque tem que pedir desculpas, um abraço e um beijo.
Aí fica tudo bem? Nem sempre. Às vezes, e cada vez mais, ele parece entender
que pode ‘desobedecer as regras’ ou ‘se comportar mal’ e tudo fica bem se ele
pedir desculpas. Por isso, quando ele se desculpa por algo recorrente, eu
explico: agora não quero suas desculpas. Estou nervosa; espere passar!
- Mãe, já passou?
Você não está mais nervosa? Está?
- Estou!
- Ah, mãe, fica
calma. Vamos ficar de bem!
- Está passando.
Tenha paciência. Paciência é...
- Esperar sem
reclamar...
É difícil resistir,
mas funciona bem. Ele fica ali do lado, quietinho, cultivando paciência. Às
vezes, cai no choro. E essa é a fase do choro-berreiro! Mas aí, é só
recapitular: por que está chorando? Por que estou nervosa? Por que você pediu
desculpas? Fazer as pazes depois de responder essas perguntas é muito mais
gostoso porque as coisas adquirem significado. E o mais importante: dar esse
tempinho é suficiente para me acalmar quando realmente fiquei nervosa. Ouvir as
respostas dele me dá esperança de que ele tenha assimilado mais uma lição. Também
peço desculpas quando acho que me excedi.
Assim, a educação que
busco não se limita a usar esses termos, mas de respeitar as pessoas. Parece
muita informação para uma criança, mas eu não subestimo o Fernando e acho que
nenhuma criança deve ser subestimada.
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