Não cabe aqui
registrar a trajetória da minha fé, mas acho importante ter fé.
A tia Cema sempre
vai à missa e, sempre que vamos a Campinas, vamos à missa. O Fernando gosta da
Igreja, embora não permaneça sentado por muito tempo. Ele gosta de ver o Jesus
na porta e fica sempre preocupado com o dodói no pé: Tem que por um curativo,
mamãe!
Quando ele tinha 2
anos, Tia Cema deu um terço para ele e ensinou: para falar com Papai do céu diga
‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’. Do jeito dele, ele repetiu.
Como gosto de preservar as lembranças que ele tenha registrado, passado um
tempo, perguntei:
- Como faz para
falar com o Papai do Céu?
Como ele parecia
não se lembrar, comecei: Em nome do Pai...
- da Mãe e do
Filho!
Confesso que orar
antes de dormir não fazia parte da nossa
rotina (faz parte da minha) e acho que por isso o Fernando não tenha registrado
esse ritual.
Neste ano, já na
casa nova, dei massinha de modelar para ele. Ele fez um bolo, espetou uns
palitos e nós fizemos a maior festa diante daquele lindo bolo: vamos comer? E
ele nos interrompeu: Primeiro, vamos agradecer ao Papai do Céu.
De lá para cá,
passou a ser o ritual antes de cortar qualquer bolo aqui em casa e
especialmente na hora de dormir: Obrigado Papai do Céu pelo dia de hoje.
Abençoa nossa casa, nossa família, nossa saúde e nossa casa (ele geralmente
repete, mas eu digo ‘nossos corações’; às vezes ele diz ‘nossa escola’). Que a
paz continue em reinando em todos os
lugares onde estiverem. Em nome de Jesus, amém.
Depois, incorporamos
a parte II: Papai do Céu, manda embora os pesadelos, os bichos papões, os bois
da cara preta, ...* e traga um sono bem tranquilo e sonhos macios, amém!
* a lista varia em
função do que viu no dia. Por exemplo, depois da visita ao Aquário de São
Paulo, fizeram parte dessa lista o tubarão da parede, os dinossauros robôs e o
jacaré do aquário. A bruxa verde do leste foi depois de ver o Mágico de Oz; as
pumpkins malucas, o Sid (do Toy Story) etc.
- Boa noite, mamãe.
Dorme bem.
- Boa noite, meu
amor. Agora vamos ficar bem...
- Quietinhos
(sussurrando)
- Durma bem. Amanhã
tem...
- Mais pessoal.
- A mamãe te ama...
- Muitão.
zzz
Funcionou bem assim
por um tempo.
Depois, passou a
ser frequente ele insistir em puxar conversa, contar mais uma história. Deita
para lá, deita para cá. Rola de um lado. Rola do outro. Chega bem pertinho:
- Mãe, você está
acordada?
- Não, filho, estou
dormindo...
zzz
E nesses dias, ele
me pegou:
- Boa noite, mãe.
Me dá um beijo.
Beijos.
- Mãe, você
esqueceu de me dar um abraço.
Abraços – de mãe e
Fê (balançando o tronco), e de camarada (com tapinha nas costas).
- Mãe, você está
acordada?
- Não, filho, eu
estou dormindo...
- Não, mãe, você
está falando!
Só não falei que
sou sonâmbula para não resgatar a história da Pinguzinha sonâmbula!
São 10 minutos de
silêncio agitado. E de repente... zzz
E toda madrugada,
em algum momento o sono se agita. Ele fala, às vezes, acorda ou até chora,
resmunga e volta a dormir. Aliás, foi por isso que incluímos a ‘parte II’ da
oração.
Que bênção!
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