segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Papai do céu





Não cabe aqui registrar a trajetória da minha fé, mas acho importante ter fé.
A tia Cema sempre vai à missa e, sempre que vamos a Campinas, vamos à missa. O Fernando gosta da Igreja, embora não permaneça sentado por muito tempo. Ele gosta de ver o Jesus na porta e fica sempre preocupado com o dodói no pé: Tem que por um curativo, mamãe!
Quando ele tinha 2 anos, Tia Cema deu um terço para ele e ensinou: para falar com Papai do céu diga ‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’. Do jeito dele, ele repetiu. Como gosto de preservar as lembranças que ele tenha registrado, passado um tempo, perguntei:
- Como faz para falar com o Papai do Céu?
Como ele parecia não se lembrar, comecei: Em nome do Pai...
- da Mãe e do Filho!

Confesso que orar antes de dormir não fazia parte da nossa rotina (faz parte da minha) e acho que por isso o Fernando não tenha registrado esse ritual.

Neste ano, já na casa nova, dei massinha de modelar para ele. Ele fez um bolo, espetou uns palitos e nós fizemos a maior festa diante daquele lindo bolo: vamos comer? E ele nos interrompeu: Primeiro, vamos agradecer ao Papai do Céu.


 

De lá para cá, passou a ser o ritual antes de cortar qualquer bolo aqui em casa e especialmente na hora de dormir: Obrigado Papai do Céu pelo dia de hoje. Abençoa nossa casa, nossa família, nossa saúde e nossa casa (ele geralmente repete, mas eu digo ‘nossos corações’; às vezes ele diz ‘nossa escola’). Que a paz continue em reinando em todos os lugares onde estiverem. Em nome de Jesus, amém.
Depois, incorporamos a parte II: Papai do Céu, manda embora os pesadelos, os bichos papões, os bois da cara preta, ...* e traga um sono bem tranquilo e sonhos macios, amém!

* a lista varia em função do que viu no dia. Por exemplo, depois da visita ao Aquário de São Paulo, fizeram parte dessa lista o tubarão da parede, os dinossauros robôs e o jacaré do aquário. A bruxa verde do leste foi depois de ver o Mágico de Oz; as pumpkins malucas, o Sid (do Toy Story) etc.

- Boa noite, mamãe. Dorme bem.
- Boa noite, meu amor. Agora vamos ficar bem...
- Quietinhos (sussurrando)
- Durma bem. Amanhã tem...
- Mais pessoal.
- A mamãe te ama...
- Muitão.
zzz

Funcionou bem assim por um tempo.
Depois, passou a ser frequente ele insistir em puxar conversa, contar mais uma história. Deita para lá, deita para cá. Rola de um lado. Rola do outro. Chega bem pertinho:
- Mãe, você está acordada?
- Não, filho, estou dormindo...
zzz

E nesses dias, ele me pegou:
- Boa noite, mãe. Me dá um beijo.
Beijos.
- Mãe, você esqueceu de me dar um abraço.
Abraços – de mãe e Fê (balançando o tronco), e de camarada (com tapinha nas costas).
- Mãe, você está acordada?
- Não, filho, eu estou dormindo...
- Não, mãe, você está falando!
Só não falei que sou sonâmbula para não resgatar a história da Pinguzinha sonâmbula!

São 10 minutos de silêncio agitado. E de repente... zzz
E toda madrugada, em algum momento o sono se agita. Ele fala, às vezes, acorda ou até chora, resmunga e volta a dormir. Aliás, foi por isso que incluímos a ‘parte II’ da oração.

Que bênção!

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