terça-feira, 28 de outubro de 2014

Educação e cultura familiar



Inicialmente, eu tinha pensado no título ‘usando o que digo contra mim’ (ou algo assim) para este post. Mas repensando, o registro mais importante é que o Fernando tem assimilado nossas orientações, a ponto de utilizá-las em contextos diversos adequadamente. É impressionante como se estabelece a cultura familiar: trejeitos, expressões, vocabulário, gestos, assuntos, interesses, conversas, rituais etc.

Na hora das refeições: filho, come.
- Só se você me pedir por favor, mamãe!

Quando derrubo algo:
- Ai, ai, ai,ai, ai, mamãe, mamãe...
E se é algum brinquedo dele:
- Ei, você não vai me pedir desculpa?
Se estiver mal-humorado...
- Mãe, eu não estou gostando disso! Você tem que me pedir desculpa! Você pegou sem 'falar pedir'!
- Me desculpe.
- Agora você tem que me dar um abraço e um beijo pra ficar de bem!

Atendendo a um pedido:
- Fê, posso ficar aí com você? ou Você me faz um favor?
- Claaaaro. Claro que sim, mamãe!

Na hora de escovar os dentes: água no copinho e torneira fechada.
- Porque a água do planeta está acabando...

Brigando comigo:
- Ei, você não está me obedecendo!
- Quem é que manda nesta casa?
- O papai e a mamãe (já baixando o tom da voz)...

Quando brigo com ele:
- Calma, mãe, você está nervosa. Fica caaaalma. Respira.
(respiro fundo)
- Tá mais calma? Que bom.

Conversas
- Mãe, deixa eu te contar. Presta atenção.
- Me conta, me conta tuuuudo!
- Sabe, blablablabla...

Agora que alcança o telefone: tecla um monte de números
- Oi vovó, você está bem?
- Eu estou ótimo! Tá, um beijo, tchau.
(mesmo jeito de falar, volume da voz, ritmo da fala...)

Outro dia, ele foi receber o técnico da TV:
- Oi, bom dia, tudo bem? Qual o seu nome? (eu sempre pergunto o nome das pessoas e incorporo na conversa)
- Milton. E o seu?
- É Fernando. Pode entrar (destrancou o portão sozinho).

Para todo prestador de serviço técnico que esteve por aqui:
- Só um minuto, vou buscar minha caixa de ferramentas.
Sai correndo e volta correndo.
- Pronto, aqui está. Posso te ajudar por favor? Tem alguma coisa que eu posso fazer?

Fora isso, continuam valendo as regras básicas e simples: caiu-levantou, abriu–fechou, sujou-limpou, bagunçou-arrumou. Mas ele aprende a fazer a bagunça dele ‘dentro’ das regras. Por exemplo, ele agora alcança bem os armários e para os que não alcança, nada que arrastar uma cadeira até o local não resolva. Abre e fuça em tudo! E depois fecha. E diz: mas eu fechei, mamãe...
- Filho, não faça isso, você vai cair.
Faz. Cai. Às vezes, até chora. Ou mesmo se tropeça e cai acidentalmente:
- Ôpa, caiu-levantou.
- Ufa, ainda bem que não foi nada, mamãe.
(vale sempre o exercício de identificar porque caiu)

Sujou-limpou. Uma vez ele sujou a parede e eu disse: agora vamos limpar. Ele se empolgou tanto que fiquei com medo que ele sujasse outras só para limpar...

Bagunçou-arrumou. No espaço kids.
- Filho, vamos almoçar?
- Ah, mãe, sabe o que é? Estou muito ocupado. Ainda não terminei de construir minha máquina...
- Depois você continua.
- Ok, mas não vai mexer, hein? Vou ficar de olho!
E no final do dia...
- Vamos arrumar, filho?
Às vezes, ele começa a arrumar tudo. Outras vezes, pede ajuda. Como anda numa fase competitiva, outra possibilidade é ver quem guarda mais coisas: eu ou ele. E ele comemora:
- Eu guardei ma-ais. Papai Noel vai dar mais pesente pro Fê do que pra você-ê. (balançando o tronco e a cabeça)

Ajudar o outro nas tarefas é outra coisa que tentamos cultivar. Aceitar a ajuda do Fernando significa ter o dobro do trabalho, demanda mais tempo e muito mais atenção e cuidado. Mas aceito de bom grado. E não é que ele adora fazer faxina?! Bolo, então... Ajudar o pai a consertar as coisas pela casa, limpar o gramado e regar as plantas, então!...no fundo, a diversão é brincar com água e usar os aparelhos domésticos e ferramentas.
Outro dia, me perguntou:
- Mãe, posso lavar louça, por favor?
- Ah, filho, ainda acho perigoso. Quando você for maior eu deixo. Aí você me ajuda, por favor?
- Claaaaro. Claro que sim.
Depois de alguns minutos ele volta e pergunta:
- Mãe, eu já cresci? Agora posso lavar louça?!

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