Inicialmente, eu
tinha pensado no título ‘usando o que digo contra mim’ (ou algo assim) para
este post. Mas repensando, o registro mais importante é que o Fernando tem
assimilado nossas orientações, a ponto de utilizá-las em contextos diversos adequadamente.
É impressionante como se estabelece a cultura familiar: trejeitos, expressões, vocabulário,
gestos, assuntos, interesses, conversas, rituais etc.
Na hora das
refeições: filho, come.
- Só se você me
pedir por favor, mamãe!
Quando derrubo
algo:
- Ai, ai, ai,ai,
ai, mamãe, mamãe...
E se é algum
brinquedo dele:
- Ei, você não vai
me pedir desculpa?
Se estiver
mal-humorado...
- Mãe, eu não estou
gostando disso! Você tem que me pedir desculpa! Você pegou sem 'falar pedir'!
- Me desculpe.
- Agora você tem
que me dar um abraço e um beijo pra ficar de bem!
Atendendo a um
pedido:
- Fê, posso ficar
aí com você? ou Você me faz um favor?
- Claaaaro. Claro
que sim, mamãe!
Na hora de escovar
os dentes: água no copinho e torneira fechada.
- Porque a água do
planeta está acabando...
Brigando comigo:
- Ei, você não está
me obedecendo!
- Quem é que manda
nesta casa?
- O papai e a mamãe
(já baixando o tom da voz)...
Quando brigo com
ele:
- Calma, mãe, você
está nervosa. Fica caaaalma. Respira.
(respiro fundo)
- Tá mais calma?
Que bom.
Conversas
- Mãe, deixa eu te
contar. Presta atenção.
- Me conta, me
conta tuuuudo!
- Sabe,
blablablabla...
Agora que alcança o
telefone: tecla um monte de números
- Oi vovó, você
está bem?
- Eu estou ótimo!
Tá, um beijo, tchau.
(mesmo jeito de
falar, volume da voz, ritmo da fala...)
Outro dia, ele foi receber
o técnico da TV:
- Oi, bom dia, tudo
bem? Qual o seu nome? (eu sempre pergunto o nome das pessoas e incorporo na
conversa)
- Milton. E o seu?
- É Fernando. Pode
entrar (destrancou o portão sozinho).
Para todo prestador
de serviço técnico que esteve por aqui:
- Só um minuto, vou
buscar minha caixa de ferramentas.
Sai correndo e
volta correndo.
- Pronto, aqui
está. Posso te ajudar por favor? Tem alguma coisa que eu posso fazer?
Fora isso,
continuam valendo as regras básicas e simples: caiu-levantou, abriu–fechou,
sujou-limpou, bagunçou-arrumou. Mas ele aprende a fazer a bagunça dele ‘dentro’
das regras. Por exemplo, ele agora alcança bem os armários e para os que não
alcança, nada que arrastar uma cadeira até o local não resolva. Abre e fuça em
tudo! E depois fecha. E diz: mas eu fechei, mamãe...
- Filho, não faça
isso, você vai cair.
Faz. Cai. Às vezes,
até chora. Ou mesmo se tropeça e cai acidentalmente:
- Ôpa,
caiu-levantou.
- Ufa, ainda bem
que não foi nada, mamãe.
(vale sempre o
exercício de identificar porque caiu)
Sujou-limpou. Uma
vez ele sujou a parede e eu disse: agora vamos limpar. Ele se empolgou tanto
que fiquei com medo que ele sujasse outras só para limpar...
Bagunçou-arrumou. No
espaço kids.
- Filho, vamos
almoçar?
- Ah, mãe, sabe o
que é? Estou muito ocupado. Ainda não terminei de construir minha máquina...
- Depois você
continua.
- Ok, mas não vai
mexer, hein? Vou ficar de olho!
E no final do
dia...
- Vamos arrumar,
filho?
Às vezes, ele
começa a arrumar tudo. Outras vezes, pede ajuda. Como anda numa fase
competitiva, outra possibilidade é ver quem guarda mais coisas: eu ou ele. E
ele comemora:
- Eu guardei
ma-ais. Papai Noel vai dar mais pesente
pro Fê do que pra você-ê. (balançando o tronco e a cabeça)
Ajudar o outro nas
tarefas é outra coisa que tentamos cultivar. Aceitar a ajuda do Fernando significa
ter o dobro do trabalho, demanda mais tempo e muito mais atenção e cuidado. Mas
aceito de bom grado. E não é que ele adora fazer faxina?! Bolo, então... Ajudar
o pai a consertar as coisas pela casa, limpar o gramado e regar as plantas,
então!...no fundo, a diversão é brincar com água e usar os aparelhos domésticos
e ferramentas.
Outro dia, me
perguntou:
- Mãe, posso lavar
louça, por favor?
- Ah, filho, ainda
acho perigoso. Quando você for maior eu deixo. Aí você me ajuda, por favor?
- Claaaaro. Claro
que sim.
Depois de alguns
minutos ele volta e pergunta:
- Mãe, eu já
cresci? Agora posso lavar louça?!
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