Dia 19 de agosto
foi meu aniversário. Teria mais cara de inferno astral do que aniversário, não
fosse o carinho que recebi de amigos e família. Eu me sentia esgotada,
insegura, ansiosa, aborrecida... e certa de que aquilo não era estado de
espírito para dar as boas vindas ao Ale, que poderia chegar a qualquer momento,
pois o dia anterior foi o início da 38ª semana.
Dia 20 eu despachei
as últimas pendências e tentei acertar as coisas que estavam me incomodando.
Por sorte, o Fuji estava viajando e deixou o carro dele conosco. Assim, o Zé
foi para a rotineira jornada das 5h:20min-22h com o carro do Fuji e eu pude
levar e buscar o Fernando na escola com o nosso carro.
Fui dormir exausta,
mas lembro que meu último pensamento foi: pronto, Ale, agora pode nascer, se
quiser.
Como já vinha sendo
frequente, sentia desconforto físico, mas estava emocionalmente mais serena.
Na manhã seguinte,
no ritual de café da manhã e preparativos para levar o Fernando para a escola,
fui ao banheiro e notei um pequeno sangramento. O Fernando estava junto e
comentou:
- Ih, mãe, sangue!
Você fez dodói?
- Não, filho, acho
que é o Ale...
Decidimos ir para o
hospital. Eu tinha preparado uma mala para nós – Zé, Fernando e eu, caso
precisássemos ficar na casa do Fuji ou dos meus pais. Juntei os exames,
documentos e o que mais consegui me lembrar que pudesse ser necessário.
Acho que saímos por
volta das 8:30.
10h:40min - Do
Pronto-Socorro, fui imediatamente encaminhada para o setor de Obstetrícia.
Fui atendida por
estudantes de medicina – vejam só, da Unicid, uma delas de Botucatu! Um monte
de perguntas e formulários para preencher, enquanto fazia cardiotocografia. Em
seguida veio a Residente, Dra. Marília, me examinar. Enquanto se apresentava,
ela explicou que ia fazer toque para ver como estava o colo do útero, mas pelo
que eu relatava, era somente o ‘tampão’ mucoso que havia se desprendido, e como eu não estava perdendo líquido nem estava com contrações fortes e
ritmadas, poderia ser alarme falso.
Ou não... eu estava
com 3cm de dilatação e decidiram me internar.
O Zé e o Fernando
me aguardavam. Fui falar com eles acompanhada pela interna, que disse ao Zé:
pode ir almoçar sossegado.
Zé foi deixar o
Fernando com meus pais e ia voltar para casa buscar o Erik e outras coisas.
12h: 8cm de
dilatação, sem dores, apesar das contrações fortes, ainda irregulares.
Liguei para saber
onde o Zé estava e dizer que não daria tempo para voltar para casa, pois eu já
estava indo para a sala de parto. Ele havia pegado trânsito na saída da casa
dos meus pais e estava por perto do hospital.
~13h Zé havia
chegado e ficamos conversando. As contrações estavam fortes, 1 a cada 10 min.
13:30 comecei a
receber ocitocina.
14:30 as contrações
vinham a cada 5 min e mais fortes. Numa delas, a bolsa estourou. Senti que o
Ale tinha ‘descido’. O Zé chamou a enfermeira e foi um corre-corre! A médica
chegou e mandou chamar o anestesista, mas eu senti que não ia dar tempo! O
obstetra chegou e confirmou: força aí porque o neném já está quase nascendo...
escutei alguém comentar que tinha mecônio, feito ‘no aperto da passagem’.
Também escutei alguém dizer: tá dilacerando ali (não tinha ideia de onde
seria...). Vou cortar aqui. Senti o talho do bisturi...
14:59 nasceu o
Alexandre Takashi, com 48cm e 3185g
Em seguida o Zé foi
para o berçário acompanhar os primeiros cuidados com o Alê e de lá, foi
embora. (O anestesista chegou)
Na hora seguinte,
senti dores até a expulsão da placenta – desta vez pedi para me mostrarem! Senti
tremores, de bater o queixo...
Senti a dor da
anestesia local e dos pontos – um pontinho só, mas feito em camadas. Outro
ali...
Estava cansada, com
fome, com frio, mas eu só queria que tudo aquilo acabasse para ficar com o Ale,
que só tinha ficado em meus braços para 2 fotos, a pedido do Zé.
16h eu fui para a
enfermaria. Perguntei sobre o Ale. Tomei banho. Perguntei sobre o Ale. Jantei. Perguntei
sobre o Ale...uma das internas foi ao berçário e tirou uma foto dele para mim.
Disse que ele estava em observação por causa do mecônio na hora do parto e me
preparou para a possibilidade de que ele pudesse ficar lá até o dia seguinte!
Fiquei arrasada.
No começo da noite,
entre 19h e 20h, finalmente nosso reencontro!
Minha convicção pelo
parto normal se confirmou. Desta vez, pude viver o trabalho de parto com o
mínimo de intervenção, muito mais ativa e consciente do que se passava do que
no parto do Fernando. Para tentar resumir, me senti realizada, forte e
corajosa. Pode parecer tolo se pensarmos que na geração da minha mãe ou até hoje
em outros países o parto normal foi ou é o mais frequente, e lamento que eu tivesse sido uma exceção, quase uma heroína por ter vivido
um processo biológico...
No fim das contas,
valeu a pena ter desistido de qualquer maternidade do convênio, não ter me
rendido à cobrança extra pelos honorários médicos ou caído nas conversas sobre
minha idade e suposta incapacidade ou riscos do parto normal.
Além de
frequentemente desnecessário, eu tinha um medo real de precisar me submeter a
uma cesárea. Pensava naquelas camadas de tecido, no corte no útero, na
cicatrização... e o maior temor: no Fernando e Erik pulando em cima de mim,
além de imaginar a dor ao me deitar, levantar, subir escadas, carregar o Ale
nos braços, dirigir etc.!
Enfim, foi uma
experiência e tanto! Graças a Deus, tudo correu bem no operacional e logística para chegar e tempo à maternidade, na competência e sensibilidade da equipe, comigo e com o Ale. Agradeço às ‘meninas’, Dra. Marília e toda a equipe que me
assistiu. E, claro, ao Zé, que esteve ao meu lado nesse momento tão importante
de nossas vidas!
PS: Eu esqueci de registrar um detalhe, digno de nota. Ao entrar na sala de parto, vi que havia um vazamento no banheiro: escorria água pela parede onde ficava o chuveiro. Logo que o Zé chegou, vieram também 2 encanadores consertar o vazamento. Um deles saiu em seguida para buscar um peça. Eu confesso que fiquei incomodada, mas percebi que eles estavam ainda mais!
Quando estourou a bolsa e foi aquele corre-corre, a doutora pediu que ele voltasse em 40 minutos. Ele saiu de cabeça baixa, entre assustado e constrangido... e não o vi voltar.
Ou seja: meu trabalho de parto foi mais rápido que o serviço do encanador!
<3
ResponderExcluirPuxa, eu ainda me lembro da sua barriga - mas do primeiro filhote!! Relatos de nascimento sempre me emocionam!! Felicidades pra vocês e... feliz lua de leite!!
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